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Etarismo está ligado à violência contra idosos?


O noticiário infelizmente está repleto de histórias sobre violência contra idosos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 15% dos idosos sofrem algum tipo de violência. Segundo uma pesquisa da Fiocruz, 60% dessas situações ocorrem dentro dos lares. Em números absolutos, certamente o tema chama a atenção, tendo em vista que o Brasil vive uma espécie de funil etário, com cada vez menos crianças e jovens e mais pessoas acima de 60 anos.


Etarismo ou idadismo é um termo cunhado há mais de cinco décadas e que está na pauta da OMS pelo menos desde 2006, mas a pandemia acirrou este tipo de preconceito, que consiste na relação entre os estereótipos e a própria discriminação baseada na idade. Um estudo do Sesc São Paulo e da Fundação Perseu Abramo, de 2020, aponta que 18% dos idosos afirmam ter sido discriminados ou maltratados em um serviço de saúde, 19% dizem ter sofrido algum tipo de violência física ou verbal e 81% consideram que há preconceito contra o idoso no Brasil.


O idadismo se manifesta em diferentes ambientes: na própria família, no trabalho, nos diversos serviços e comércios e na ausência de políticas públicas adequadas, que considerem as diversas velhices e as minorias ou grupos menos favorecidos dentro da população idosa, vítimas de múltiplas discriminações.


O fato de os idosos serem o principal grupo de risco para a covid-19 acirrou o preconceito, com situações em que eles eram quase culpabilizados pelo que estava acontecendo na pandemia. O Disque 100 teve um salto entre 2019 e 2020: de 48,5 mil para 77 mil ligações para denunciar maus tratos contra idosos. Trata-se de um canal importante, em que qualquer pessoa pode fazer até uma denúncia anônima. Mas especialistas afirmam que ainda existe muita subnotificação. Na maioria das vezes, o idoso não denuncia por medo, vergonha, especialmente se for um familiar.


A rotulação de que a pessoa idosa é frágil e incapaz é um passo para a violência. Primeiro, costumam ocorrer negligência, abandono, violência psicológica e depois a violência física. Os preconceitos e discriminações criam situações em que a pessoa idosa é desconsiderada, perde a oportunidade de tomar decisões, de se manifestar. Isso muitas vezes vai levando, por exemplo, ao silenciamento da pessoa idosa. Uma pesquisa do IBGE de 2019 aponta que a população entre 60 e 64 anos é a mais afetada pela depressão no Brasil.


A solução, segundo especialistas, passa por desconstruir como sociedade os estereótipos ligados ao envelhecimento. Reconhecer que as velhices são heterogêneas e que o envelhecimento não é o mesmo para cada pessoa.


Disque 100


O Disque 100 é um serviço para denúncias de violações de direitos humanos a diversos grupos, inclusive idosos. O serviço pode ser considerado como “pronto socorro” dos direitos humanos e atende graves situações de violações que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso, acionando os órgãos competentes e possibilitando o flagrante.


Qualquer pessoa pode reportar alguma notícia de fato relacionada a violações de direitos humanos, da qual seja vítima ou tenha conhecimento. Por meio desse serviço, as autoridades recebem, analisam e encaminham as denúncias aos órgãos de proteção e responsabilização.


O serviço funciona diariamente, 24 horas, por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel, bastando discar 100.


Fontes:

Podcast O Assunto, episódio “Etarismo – como ele leva a outras violências”, em que a jornalista Natuza Nery entrevista Naira Dutra Lemos, professa da Unifesp e membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, e Bibiana Graeff, professora do curso de Gerontologia da USP

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