Em termos de políticas públicas, muitas vezes é definido um intervalo de idade para mulheres e homens sem sintomas realizarem exames capazes de detectar precocemente câncer de mama, próstata, pulmão e cólon (intestino). Estes são os tipos de câncer que acometem um maior número de pessoas e estão entre os mais letais. Portanto, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado curam ou prolongam a vida e trazem qualidade para o tempo dessas pessoas. Este processo de investigar indivíduos sem sintomas é chamado de rastreamento.
O recorte por idade para definir quem fará o rastreamento é adotado nas políticas públicas com base em evidências científicas que mostram os potenciais benefícios versus danos de realizar exames com essa finalidade. No entanto, raramente pessoas com mais de 75 anos são incluídas nesses estudos.
Não está claro se podem ser extrapolados para os muito idosos os benefícios do rastreamento de pessoas com menos idade investigadas nos estudos disponíveis. Além disso, há evidências de danos potenciais do rastreamento do câncer. Por exemplo, idosos frágeis ou com outras condições médicas podem apresentar mais complicações na realização dos exames e mesmo ter dificuldade para dar continuidade na sequência dos cuidados após testes positivos.
Sabe-se que, em idosos com menos de 10 anos de expectativa de vida, ocorrem com mais frequência o diagnóstico e o tratamento de um câncer que não teria causado sintomas durante a vida restante daqueles indivíduos, expondo-os potencialmente a danos desnecessários, o que inclui cirurgias, quimioterapia e radioterapia.
Outro aspecto importante é contar ao médico sobre as preferências do idoso. Por exemplo, se já passou por triagem no passado e como foi sua experiência, se prefere ter mais informações médicas e exames em comparação com uma preferência geral de evitá-los. Indivíduos que percebem outras prioridades urgentes de saúde podem razoavelmente sentir a necessidade de gerenciar primeiro essas condições antes de buscar o rastreamento do câncer.
Sendo assim, olhando individualmente para cada pessoa, o que precisa ser considerado, mais do que a idade, é a saúde geral (funcionalidade), a expectativa de vida e as preferências do idoso. Se for alguém muito dependente, com funcionalidade baixa, provavelmente não vale continuar fazendo o rastreamento. Já se for um idoso mais saudável, independente, com expectativa de vida longa, a decisão individual pode ser a de continuar fazendo o rastreamento porque, se encontrada uma alteração, pode ser tratada antecipadamente e ter um desfecho muito melhor.
Algo fundamental é buscar uma boa comunicação com o médico, entender cada aspecto considerado na decisão de fazer o rastreamento ou não, esclarecer impressões e tirar dúvidas. O objetivo final é que garantir que os idosos que podem se beneficiar tenham a oportunidade de serem rastreados e aqueles em que os danos superam os benefícios evitem a triagem prejudicial.
Duv-Idoso e Instituto Oncoguia
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